terça-feira, 18 de janeiro de 2011

COMPÊNDIO DE TERMOS LITÚRGICOS


                    Liturgia
1. Nome e conceito. (Do gr. = serviço do povo). No antigo uso profano designava qualquer serviço em favor do povo. No séc. II a.C. (nomeadamente na tradução dos Setenta) aparece também como serviço do culto. Mais tarde, nas Igrejas Orientais passou a designar a Missa. Na Igreja latina, só aparece no séc. XVI. O seu sentido foi-se precisando com o “Movimento Litúrgico”. Depois de Pio XII (Enc. Mediator Dei, 1947), o Conc. Vat. II ( Sacrosanctum Concilium 7), para a definir, evoca três notas essenciais: é o exercício do sacerdócio de Cristo; nela, sinais sensíveis significam e, a seu modo, realizam a santificação do homem; e assim o Corpo Místico de Cristo (a Cabeça e os membros) exerce o culto público integral. O sacerdócio de Cristo exerce-se nos dois sentidos: no de culto perfeito a Deus (sentido ascendente) e no de santificação dos homens (sentido descendente). Neste exercício, a presença e atuação de Jesus Cristo são eficazmente asseguradas por sinais sacramentais. A própria Igreja é sacramento de Cristo, pois é através dela que, hoje, Jesus fala aos fiéis, lhes perdoa os pecados e os santifica, associando-os intimamente à sua oração e ao seu sacrifício de valor infinito (mistério pascal). Com razão se diz que a liturgia é «o cume para que tende toda a atividade da Igreja e simultaneamente a fonte de onde dimana toda a sua força» ( Sacrosanctum Concilium 10).

2. A liturgia ao longo da história. No NT, há referências a acções litúrgicas (1Cor 11,1-33; Act I2,42-47...). Nas Apologias de S. Justino (séc. II), na Tradição Apostólica de Hipólito (séc. III) e noutros escritos dos primeiros séculos já se descrevem as várias celebrações (missa, sacramentos…). Com a paz de Constantino (séc. IV), a Igreja organiza-se e o culto litúrgico estabiliza-se, adquirindo grande esplendor. Para isso contribuíram grandes papas e bispos (Gregório Magno, Ambrósio, Cirilo…). São deste tempo os “sacramentários”, que fixam os textos litúrgicos. É um tempo criador, durante o qual se desenvolvem, a par, as liturgias orientais e as latinas (romana, ambrosiana…). Segue-se um período, até ao séc. XII, de certa confusão pela influência das Igrejas germânicas, francas e célticas. O povo tende a afastar-se da liturgia para se dar às devoções. No séc. XIII, os monges de Cluny e as Ordens Mendicantes, na sua acção missionária, contribuem para impor a todo o Ocidente a liturgia romana. São desta época o pontifical, o missal, o breviário e o ritual. Os dois últimos séculos, anteriores ao Conc. de Trento (séc. XVI), pouco significaram para a liturgia. Este Conc. e os Papas que o executaram puseram cobro aos abusos, estabeleceram os fundamentos teológicos das acções litúrgicas e, no clima da Contra-Reforma perante o Protestantismo, uniformizaram rigidamente a liturgia, centralizando toda a legislação na Cúria Romana. Pio V publicou o Breviário (1568) e o Missal (1570), e, outros Papas, os restantes livros litúrgicos, que estiveram em uso praticamente até ao Conc. Vat. II. Salvas a ortodoxia e a disciplina, perdeu-se o influxo vital da liturgia. O Movimento Litúrgico reagiu e preparou a reforma da liturgia, a qual, depois das intervenções de S. Pio X e de Pio XII, foi assumida pelo Conc. Vat. II, orientada pela Const. Sacrosanctum Concilium. Paulo VI, o grande executor do Concílio, empenhou-se a fundo nesta reforma, que hoje está praticamente concluída, embora nem sempre aplicada. Teve em vista principalmente a «participação consciente, activa e frutuosa» nas acções litúrgicas (Sacrosanctum Concilium 11). Para isso, se clarificaram os ritos, se generalizou o uso das línguas vernáculas e se admitiu uma certa margem de adaptação nas formas de celebrar.

3. Movimento Litúrgico. Assim se ficou a chamar o conjunto dos esforços tendentes a tornar a liturgia mais vivida pelo povo de Deus. Preparado pelo estudo das fontes litúrgicas por especialistas dos sécs. XVII-XVIII, foi seu grande impulsionador D. Guéranger (+1875) com os seus monges beneditinos do Mosteiro de Solesmes. Na primeira fase, o M. L. germinou nos grandes mosteiros (Maredsous, Mont-César, Maria-Lach...). Depois, com D. Lambert Beaudouin (+1960), passou às paróquias e irradiou nomeadamente através de congressos e de revistas de pastoral litúrgica (Questions Liturgiques et Paroissiales, Maison Dieu). S. Pio X oficializou o M. L. e promoveu o canto gregoriano, a participação dos fiéis na Missa e a comunhão frequente, mesmo das crianças. Pio XII foi outro grande paladino deste movimento, dele ficando célebre a sua Enc. Mediator Dei (1947).

4. Em Portugal, o M. L. deu os primeiros sinais nos Congressos Litúrgicos de Vila Real (1926), Braga (1928), Lisboa (1932) e Porto/Santo Tirso (1932). Entre os seus mentores e promotores, é de justiça referir D. António Coelho e Mons. Pereira dos Reis, respectivamente, nos dois principais centros de irradiação, o Mosteiro de Singeverga e o Seminário dos Olivais, com as revistas Opus Dei, Mensageiro de S. Bento, Ora et Labora e Novellae Olivarum. Mons. Freitas Barros promoveu, desde 1927, edições diversas da tradução portuguesa do Missal. Durante o Conc. foi constituída a Comissão Episcopal da Liturgia que, assessorada pelo respectivo Secretariado Nacional, assegurou as traduções e edições dos novos livros litúrgicos e a formação litúrgica do clero e dos fiéis, nomeadamente pela realização todos os anos, em Fátima, de Encontros Nacionais de Pastoral Litúrgica. 

5. Elementos estruturais da liturgia. A liturgia concretiza-se nas celebrações litúrgicas (missa e sacramentos, Ofício Divino, bênçãos e outros sacramentais). A estrutura de cada uma das celebrações foi-se definindo desde os primórdios da Igreja. Esquematicamente, nas celebrações, enquadradas pelos ritos de abertura e de conclusão, desenrolam-se os vários ritos, em geral em torno do essencial. Os ritos são ilustrados pela Palavra de Deus, que é proclamada, rezada, cantada e inspira os diversos textos litúrgicos não bíblicos. Em geral, as celebrações contêm uma primeira parte de liturgia da palavra, que a reforma litúrgica pôs em evidência (Sacrosanctum Concilium 35). Os textos devem ser proferidos de acordo com a sua natureza, pois uma coisa é aclamar, outra suplicar ou meditar, ler ao povo ou cantar em conjunto (CB 116; EDREL 2653). As celebrações litúrgicas são de toda a Igreja, representada em cada uma pela assembleia celebrante, mesmo quando, nos sacramentos e sacramentais, são especialmente beneficiados com a graça de Deus determinados fiéis. A assembleia é um corpo orgânico, como o é a Igreja. Na maioria das celebrações, há um presidente que, pela ordenação sacerdotal, faz as vezes de Jesus Cabeça do Corpo Místico e atua em seu nome. Para determinadas outras funções, podem ser requeridos outros ministros (diácono, leitores e acólitos instituídos, leigos). E há celebrações que podem ser presididas por simples leigos. Os livros litúrgicos contêm não só os textos que pertencem aos diversos agentes litúrgicos, mas ainda as regras (rubricas) que os ritos devem respeitar. Tais ritos, que, segundo a reforma litúrgica, devem ser simples e claros (SC 34), recorrem a elementos naturais, (água, vinho, óleo, fogo, incenso…); a gestos (andar, comer, beber, lavar…); a posições corporais (de pé, sentados, de joelhos); e ainda a uma série de objectos, as alfaias litúrgicas (cálice, patena, lâmpadas, toalhas, paramentos…) e adequado local (igreja ou outro lugar de culto, como altar, ambão, crucifixo, imagens, bancos…). A celebração da liturgia decorre, no tempo, de acordo com o calendário do ano litúrgico. Nele se definem, ritmadas pela celebração da Páscoa semanal, as diversas solenidades, festas e memórias, em hora do Senhor, de Maria e dos Santos.

(Dom Manoel Franco Falcão)

A palavra liturgia provém do grego clássico "leitourghia" e deriva da composição de laós (povo) e de ergon (obra). Quer dizer a união de um povo, expressão de comunidade, que se reune para viver de forma profunda e solene uma obra de adoração completa ao seu Deus publicamente e expressivamente. É na sagrada liturgia e através dela que vivenciamos da maneira mais elevada a nossa fé a Deus, verticalmente, e o nosso amor e comunhão com o irmão que também vem para louvar e agradecer ao mesmo Deus, horizontalmente. A Liturgia Católica é dessa forma a oração mais sagrada da Igreja porque resulta da união de uma comunidade que unida busca contemplar e encontrar o insondável mistério do amor de Deus pela humanidade, com sinais, símbolos e gestos. Como diz Frei Patrício Sciadini, a liturgia é o momento aonde "sentimento, fé e arte se mesclam com a sabedoria da mente e do coração, formando o mundo espiritual dos gestos e do sagrado".

Para apreciarmos uma obra de arte precisamos ter alguns conhecimentos básicos para não "coçarmos a cabeça" diante dela. Conhecer o mínimo sobre aquela escola artística, sobre o autor e sobre as suas intenções é pré-requisito para compreender a mensagem contida em cada peça artística, isso porque o ser humano só consegue aprecisar e contemplar aquilo que conhece e entende. Infelizmente muitos de nós católicos passamos anos e anos participando da missa dominical sem entender o sentido da liturgia e acabamos nos limitando a imitar o que o outro faz, esvaziando assim toda a profundidade e toda a vida da sagrada missa. Não é a toa que muitos fiéis também "coçam a cabeça" diante dos símbolos, dos gestos e sinais presentes na liturgia justamente porque não conhecem o que tudo aquilo diz. Essas mesmas pessoas acabam a ler por ler, a se portar de forma maquinal e a celebrar para cumprir a obrigação. Mas aqueles que buscam compreender plenamente o sentido da liturgia recebem os frutos do Espírito Santo, inspirador da liturgia, e conseguem dia após dia através da participação viva da missa uma espiritualidade cada vez mais elevada e um fortalecimento de todas as virtudes cristãs.

Não é a toa que o Concílio Vaticano II chama a sagrada liturgia de o "cume para qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força". Mediante esses sinais sensíveis presentes na sagrada liturgia chegamos a contemplar com toda a riqueza e plenitude os mistérios do amor de Deus pela nossa humanidade. Vamos então procurar compreender tudo o que essa mesma liturgia nos oferece para chegarmos com maior rapidez e eficácia espiritual a esse cume, a essas alturas sagradas para onde nosso coração e nossa alma buscam sem cessar: a própria essência de Deus.

"Fica sabendo, ó cristão, que mais merece ouvir devotamente uma só missa do que distribuir todas as riquezas aos pobres e peregrinar toda terra". (São Bernardo Bernardo de Claraval)
Autor: Silvio L. Medeiros

Citações dos Santos:
- "Deves ter veneração e respeito pela Santa Liturgia da Igreja e por cada uma das suas cerimônias. - Cumpre-as fielmente. - Não vês que nós, os pobrezinhos dos homens, necessitamos que até as coisas mais nobres e grandes entrem pelos sentidos?" (S. JoseMaría Escrivá - Caminho 522)
- "A Igreja canta - disse alguém - porque falar não seria bastante para a sua oração. - Tu, cristão - e cristão escolhido -, deves aprender a cantar liturgicamente." (S. JoseMaría Escrivá - Caminho 523)
- "Aquela mulher que, em casa de Simão o leproso, em Betânia, unge com rico perfume a cabeça do Mestre, recorda-nos o dever de sermos magnânimos no culto de Deus. - Todo o luxo, majestade e beleza me parecem pouco." (S. JoseMaría Escrivá - Caminho 527)

                  Missa

O termo Missa, derivado do lat. "missio", com sentido de despedida e de envio, designa a *celebração do *sacramento da *Eucaristia (ou *mis­-tério pascal) sobretudo na dimensão sa­crificial. Ini­cial­mente usaram-se outros termos, como “fracção do pão” (Act 2, 42; 20,7), “ceia do Senhor” (1Cor 11, 20), “acção”, “oblação”, “sacrifício” ou “sacrifício eucarístico”.

2. Instituição e natureza. Antes de oferecer a vida como sinal do maior amor no sacrifício da Cruz, reparando os pecados do mun­do e dando plena glória a Deus, J. C. dei­xou-nos a maneira mais viva de nos associarmos ao seu gesto sacrificial úni­co e de valor infinito. Para isso, na Últi­ma Ceia, instituiu com a força de *sa­cra­mento o sacrifício eucarístico e o sa­cerdócio ministerial, dando aos Apóstolos o poder e a ordem de repetirem em sua memória os gestos e as palavras de consagração do pão e do vinho no seu Corpo e Sangue, hoje no estado glorio­so. Assim, os fiéis, em qualquer parte do mundo e ao longo dos séculos, passa­ram a ter a possibilidade de: 1) pelo sinal sacramental da consagração em separado do pão e do vinho, se associarem ao sacrifício de J. C. na Cruz; 2) de se unirem da manei­ra mais perfeita e expressiva, pela comu­nhão sacramental, a J. C. entregue em sacrifício agradável ao Pai; 3) de terem o próprio J. C. presen­te sacra­men­tal­mente no sacrário como amigo e como alimento da vida da graça.

3. A celebração eucarística. A expressão ri­tual e sacramental da acção sagrada (Missa), em parte inspirada nas práticas judaicas da sinagoga e da ceia pascal, já aparece nos primeiros tempos da Igreja com o esquema actual (p.ex., na 1.ª Apologia de S. Justino, séc. II; cf. Cat. 1345). A celebração da M., depois da purificação de alguns acrescentos devocionais feita pela reforma do Conc. Vat. II, decorre segundo o seguinte esquema: 1) Ritos iniciais: entrada do ce­le­brante, saudação, acto penitencial (segundo diversas modalidades: confissão, Kyrie e absolvição, ou em alternativa o *asperges), Glória (nos dias mais sole­nes) e oração colecta. 2) Liturgia da Pa­lavra: leituras bíblicas, cânticos intercalares, homilia, credo ou profissão de fé (aos domingos e solenidades), e ora­ção universal ou dos fiéis. 3) Liturgia eucarística, que repete sacramental­men­te os gestos e palavras de J. C. na Ceia: a) preparação das oferendas (pão e vinho) e do altar; b) oração eucarística (também chamada *cânone ou *anáfo­ra) contendo os seguintes elementos: pre­-­fácio ou acção de graças terminando com a aclamação do Sanctus; *epiclese ou invocação do Espírito Santo para que as oferendas se convertam no Corpo e Sangue do Senhor; narração da institui­ção operando a consagração; *ana­m­nese ou memorial da paixão, morte e ressurreição de J. C.; oblação ao Pai de J. C. hóstia e com Jesus oferente; intercessões dos Santos e memórias (*mementos) dos vivos e dos defuntos; ­ter­mi­nando com a doxologia final, ratificada pelo *Ámen do povo; e c) rito da comu­nhão, preparado pela oração do­mi­nical (Pai-Nosso); gesto da paz, frac­ção do pão e inclusão de uma partícula no vinho consagrado (enquanto se canta ou recita o Agnus Dei); preparação pessoal para a comunhão; comunhão do(s) sa­cer­dote(s), dos outros ministros e dos fiéis; tempo de recolhimento; e oração depois da comunhão. 4) Ritos de con­clu­são: saudação, bênção (a que, em cer­­tos dias, se pode acrescentar uma “ora­ção sobre o povo”); e despedida. V. Missal, IGMR; cf. Cat. 1345-1355.

4. Particularidades. Na M., o sacerdote (bispo ou presbítero) que preside fá-lo em nome de J. C. e também da Igreja pre­sente na assembleia celebrante. Além do presidente, é bom que parti­ci­pem activamente outros *ministros ou ministrantes (sacerdotes concelebran­tes, diácono, acólitos, leitores, canto­res...) e os fiéis da assembleia, pelos ges­tos, atitudes, diálogos, aclamações, canto, orações… A M. mais importante, chamada “estacional” (antigamente “pon­tifical”), é a do bispo da diocese ro­deado do seu presbitério e do povo, nas principais festas do ano litúrgico, celebrada normalmente na catedral (CB 119ss; SC 41). É também particularmente importante, para cada comuni­dade paroquial a M. dos domingos, dias de preceito e outras festividades, a que é costume chamar “paroquial” ou “conventual”. É da estrutura da M. o uso do canto pelo celebrante e pela assembleia. Por isso, pelo menos as missas mais importantes devem ser “cantadas” ou “so­lenes” (como se dizia no passado, em con­traste com as missas “rezadas”, sem canto). A pedagogia do sagrado justifica que os celebrantes estejam revestidos dos paramentos próprios e o altar de­vi­damente preparado. Para favorecer a participação dos fiéis, a M. passou a ser celebrada em vernáculo (a menos que, para assembleias inter­na­cio­nais, convenha o clássico latim, que favorece a unidade na universalidade). Para facilitar a comunhão sacramental, o *je­jum eucarístico foi reduzido a uma hora, ou mesmo a menos, nalguns casos espe­ciais (doentes, sacerdotes que binam ou trinam…). V. Eucaristia.

5. Missas para grupos particulares. A Igre­ja procura que os fiéis se insiram na comunidade eclesial (diocese, paróquia), nomeadamente nas celebrações litúrgicas dos do­mingos e dias festivos. No entanto, a solicitude pastoral tem em atenção grupos particulares de fiéis, para os quais a Eucaristia é meio de aprofundamento da vida cristã, desde que se não alimen­te o espírito de separação. Destes grupos fazem parte os que se reúnem em acções de formação e apostolado, os que vivem longe dos lugares habituais de missa, e os grupos familiares com doentes ou reunidos por especial cir­cuns­tância religiosa (velar defunto, ce­le­brar bodas de prata matrimoniais, etc.). A M. deve celebrar-se em lugar sagrado, mas o bispo pode autorizar que seja noutro lugar decente, mesmo em sala de casa particular, mas não em quar­to de dormir. Em tudo se devem res­peitar as normas litúrgicas da cele­bra­ção e promover a melhor participa­ção da assembleia celebrante. (Cf. Instr. da SCCD Actio pastoralis de 15.5.1969, EDREL 2671-2685).

6. Nomenclatura popular. No uso corrente, diz-se “Missa do Galo” a da meia-noite de Natal; “Mis­sa de Requiem”, “de Finados”, “de Defuntos” ou “das Almas”, a que se ce­le­bra em sufrágio de fiéis defuntos; “Missa Nova”, a que o neo-sacerdote celebra depois daquela em que foi orde­nado; “Missa negra”, o rito sacrílego de índole mágica ou satânica, à imitação duma missa, por vezes profanando ­ignobilmente hóstias consagradas rou­badas.

                  Missal

1. Breve história. Considerado o mais importante livro litúrgico, o m. contém as orações e outras fórmulas que pertencem ao sacerdote celebrante da *Missa. Actualmente está em vigor a 3.ª edição típica (Abr. 2000) do Missal Romano, saído da reforma do Conc. Vat. II (1.ª ed. 1970 e 2.ª ed. 1975), ela­bo­rada a partir do Missal de S. Pio V (1570) mandado editar pelo Conc. de Trento, purificado de acrescentos vá­rios. Inicialmente a Bíblia era o único livro usado na celebração da Missa, dei­xando-se ao sacerdote celebrante impro­visar as orações. Pouco a pouco fo­ram aparecendo colecções de textos escritos para o celebrante, a que cha­ma­vam “sacramentários”. Na clerical Ida­de Média, por comodidade e presunção de que ao sacerdote celebrante competiam todos os textos da missa, surgiram os “missais plenários”, que incluíam as leituras e cânticos. Com o Conc. Vat. II voltou a dar-se importância à distribuição das diversas funções da Missa pelos vários ministros e outros agentes litúrgicos, o que levou à separação dos livros: missal, leccionários, evangeliário e livros dos cânticos (gra­duais…).

2. O atual Missal Romano abre com a “Ins­tru­ção Geral do Missal Romano” (IGMR), verdadeiro directó­rio da celebração (mais do que simples repositório de rubricas rituais), e com as “Normas Gerais do Ano Litúrgico e do Calendário”. No centro encontra-se o “Ordinário da Missa”, parte comum, embora com variantes opcionais de certas fórmulas. Envolvendo o Ordinário, encontram-se os textos próprios das missas dos *domingos, *férias, *soleni­dades, *festas e *memórias obrigatórias e facultativas, missas rituais e votivas e outros textos complementares ou de opção. São suas partes: Próprio do Tem­po (ou Temporal), Ordinário da Missa, Próprio dos Santos (ou Santoral), Co­muns, Missas Rituais, Missas e Orações ad diversa, Missas Votivas, Missas de Defuntos (e Apêndice).

3. Missais pró­prios estão previstos para os diversos ritos, alguns dos quais latinos, como o “Bracarense”.

4. Missais dos fiéis. Estes Missais, em vernáculo, surgiram com o *mo­vimento litúrgico, tendo sido de grande utilidade quando a celebração se fazia em latim, e ainda o são para pre­parar e aprofundar a participação dos fiéis nas missas.

                  Rito

1. Em geral. São actos executados de forma precisa por um grupo humano que lhes dá sentido. Podem ser: r. sociais (no convívio corrente ou em ce­ri­mónias protocolares); ou r. sagrados (mágicos ou religiosos). De entre es­tes últimos, interessam aqui os r. da religião católica (litúrgicos e da piedade popular).

2. Ritos litúrgicos. Esta ex­pres­são pode ter dois sentidos: a) Ritos das di­ver­sas Igrejas Católicas, que se podem agrupar em: ritos latinos (tendo por ba­se o rito romano e admitindo as varian­tes dos ritos ambrosiano, hispânico e ou­tros, como o bracarense); e ritos orien­tais (especialmente o bizantino quer em língua grega quer em esla­va). O Conc. Vat. II, na Const. *Sacro­sanc­tum Con­cilium, considera iguais em direito e honra todos os r. legitimamente reco­nhecidos (SC 4). A reforma litúrgica determinada por esta Const. aplica-se, nos seus princípios gerais, a todos os r., mas as normas práticas refe­rem-se ao rito romano (SC.3); b) Ritos das celebra­ções litúrgicas. Estes r. encontram-se descritos nas *rubricas dos livros litúrgicos (Missal, Pontifical, Rituais…). A revisão destes livros, segundo as directivas do Concílio, en­con­tra-se já feita, quer nas edições típicas (na língua oficial latina), quer nas traduções em línguas verná­culas devidamente aprovadas pelas Conferências Episcopais e reco­nhecidas pela Santa Sé. As celebrações litúrgicas (da missa, de sacramentos, de sacramentais…) compõe-se de r. diversos, cada um deles com a sua história e significado espiritual. Nos r. há atitudes, gestos ou uso de coisas, e há as palavras do presidente, ministros e assembleia que lhes dão sentido. São exemplos de ritos: o abençoar e o benzer-se, o genuflectir diante do SS. Sacramento ou a inclinação diante do presidente em fun­ções, os cortejos da entrada, do ofertó­rio, da comunhão (na missa), os ritos essenciais dos sacramentos com a ma­téria e a forma, etc. É missão da pastoral litúrgica levar todos os que tomam parte nas celebrações a executarem de forma correcta, cons­ciente e proveitosa todos os r.

3. Ritos da piedade popular. São muitos estes r., chegados até nós por uma tra­di­ção po­pu­lar fortemente iluminada pela fé cris­tã. O Directório da Pie­dade Popular e Liturgia recolhe muitos deles em cinco capítulos da sua Parte II, relativos ao Ano Litúrgico, à devoção a Maria, ao culto dos Santos, ao sufrágio pelos defuntos e às procissões e santuários. São exemplos: pelo Natal, ar­mar o presépio, abençoar a ceia, beijar o Menino; pela Quaresma e Semana Santa, a Via-Sacra e a procissão do en­ter­ro; pela Páscoa, a visita pascal; ao longo do ano, visita ao SS. Sacramento, terço na igreja ou em família; meses do Coração de Jesus, de Maria e outros; o Angelus; consagração a Nossa Senhora; uso do escapulário, de crucifixos e me­dalhas; entronização de imagens em casa; visita ao cemitério; peregrinação a santuário, etc.

4. Con­gre­gação dos Ri­tos. Nome do dicastério da Cúria Roma­na, constituído em 1588 por Sisto V, para a liturgia e processos de canonização. Paulo VI separou os dois campos de competência, criando, para a liturgia, a Congregação do Culto Divino. Pos­teriormente (1975 e 1984) absorveu a competência da Congre­ga­ção da Dis­ciplina dos Sacramentos, cria­da por S. Pio X (1908). Finalmente, João Pau­lo II, pela reforma da Cúria (Const. Pas­tor Bonus, 1988), criou a Congregação do Culto Divino e da Dis­ciplina dos Sacramentos, à qual está confiado tudo o que respeita à liturgia.

5. Questão dos Ritos Chineses. Com este nome ficou na história uma la­mentável controvérsia entre várias corporações missio­ná­rias, originada pelo tipo de evangelização levado à corte de Pequim pelo jesuíta Ma­teus Ricci (+1610), procurando a inculturação local do Cristianismo, em ter­mos mais tarde contestados, que le­va­ram à sua condenação por Roma (séc. XVIII). Pio XI e Pio XII tomaram sobre o assunto uma posição mais compreensiva e conciliadora. Questão semelhan­te, embora com menor projecção, foi a dos Ritos Japoneses e Malabares, motivada pela aceitação por S. Francisco Xa­vier e seus primeiros companheiros da ter­mi­no­lo­gia das religiões locais para exprimir conceitos cristãos. O Conc. Vat. II, celebrado sob o signo do aggior­namento da Igreja, mostrou-se parti­cularmente interessado na *inculturação das verdades da fé e de sua celebração, convidando as Conferências Episcopais a adaptarem os r. às tradições e con­di­ções de vida dos diversos povos, para, na fidelidade à sua essência, os tornar mais compreendidos e vividos (cf. SC 1; Carta ap. Vicesimus quintus annus, 1, EDREL 3279).


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